BH e a Copa do Mundo de 2014
Olá pessoal, Resolvi escrever este post para contar um pouco da minha experiência cotidiana morando próximo a um estádio em uma cidade sede da Copa do Mundo de 2014. Moro dentro do perímetro conhecido como Principado da FIFA, que é um perímetro de 2km ao redor dos estádios onde, em dias de jogo, o Estado gentilmente cede a FIFA o espaço para que organize de acordo com suas leis e interesses. Isso implica aos moradores deste perímetro terem de portar um comprovante de residência para garantir o seu direito de ir e vir até a residência. Outra intervenção que desagrada principalmente aos comerciantes do bairro é: em dias de jogo não é permitido o estacionamento de nenhum veículo nas ruas do bairro. A consequência são estabelecimentos comerciais abertos e desertos, prontos para atender a grande quantidade de turistas que virão e que não consumirão em suas lojas. Mobilidade talvez seja o ponto mais critico para todas as cidades e Belo Horizonte é um grande exemplo do descaso e das falsas e otimistas previsões por parte da administração. Os pontos de ônibus estão em construção há praticamente um ano, enquanto a população se arrisca em travessias sem sinalização pelos corredores de ônibus repletos de terra, barro, buracos e entulho das obras; falta de fiscalização quanto a segurança dos passageiros e cumprimento do CTB por parte dos motoristas. Ontem, ao sair de casa, deparei-me com um ônibus cercado por fitas zebradas e membros do corpo de bombeiros fotografando uma vítima (provavelmente fatal) debaixo do veículo. Não raramente, observo avanços de sinal, desrespeito pelas paradas nos pontos e constante alteração de seus locais. Atropelamentos são comuns na região e até mesmo uma viatura da Patrulha de Trânsito da Polícia Militar já vi capotada na Avenida Antônio Carlos. Por esses e outros eventos, o último mês foi para mim particularmente ilustrativo quanto ao nosso despreparo em infraestrutura, segurança, prevenção de acidentes ao cidadão, mobilidade, cuidado com o patrimônio público e serviços a população. Enquanto isso a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) segue sem faixas para travessia de pedestre em sua portaria na Avenida Antônio Carlos e com falta de espaço físico para acomodar nas decadentes calçadas a grande quantidade de estudantes e funcionários. O BRT entra em funcionamento apenas 1 mês antes do evento, a ampliação do metrô não passou de alguns furos de sondagem e a avenida Antônio Carlos segue em sua terceira reforma para recapeamento da pista, que já mostra a qualidade inferior dos materiais utilizados para a pista de rolamento. Questões relativas a acessibilidade são muito abordadas durante as propagandas, mas, no dia a dia o que se vê são cadeirantes com dificuldades de circulação em qualquer calçada. Principalmente para portadores de necessidades especiais e idosos, o tempo e sincronização dos semáforos transformam em uma odisséia a travessia de uma rua. É curioso, para não dizer revoltante, a abordagem das esferas da administração pública sobre as questões de infraestrutura, planejamento urbano, segurança e festividades: tudo está correndo bem, dentro do período previsto e estamos muito bem preparados para receber a grande quantidade de turistas que aparecerá. Contrariando as notas oficiais, já é sabido que Confins terá de esconder as obras de ampliação da pista, área de embarque e praça de alimentação. Ao que me parece não sobra nada do aeroporto para ser visto e os turistas precisarão contar com a sorte para não serem assaltados na linha de ônibus da conexão aeroporto. Me abstenho de entrar na questão da segurança, visto que ser tratado como bandido para entrar na minha própria casa não é um privilégio só meu. Este será o procedimento padrão dado ao povo brasileiro que não tem condições de pagar por um ingresso para a copa do mundo. Quanto aos turistas estrangeiros que vierem em caravana, fiquem tranquilos, o nosso governo está pagando para que vocês tragam policiais do país de origem para assegurar-lhes o direito de ir e vir e impedir que sejam confundidos com o povo. E a festa? Engarrafamento de trio elétrico, gorilas correndo pela rua dentre outros absurdos que faziam parte das previsões de um dos patrocinadores do evento deu lugar aos planos de contenção e a votação acelerada de um projeto de lei que criminaliza o manifestante e amplia os direitos das policias nessas situações. Nesses tempos de copa / manifestação / eleição o público e o privado se confundem. Toda a atenção é dada ao evento da Copa do Mundo, no que compete a seus patrocinadores e turistas estrangeiros. O povo, este sim, o maior patrimônio de um país é tratado como um intruso, alguém que quer entrar de penetra em uma festa para a qual não foi convidado. E, se a solução é alugar o Brasil, porque simplesmente o emprestamos a essa corja de corruptos? Manifeste sua opinião, compartilhe com os amigos. Vamos juntos lutar por um país melhor. Paz
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